Construindo um blog com o Gatsby
Se você leu o rodapé desta página, percebeu que ela foi feita usando o Gatsby. Essa ferramenta foi uma das minhas gratas surpresas em 2020.
Eu queria dar uma repaginada no meu blog e, por coincidência, estava estudando algumas tecnologias que me inspiraram a começar algo do zero. A ideia era escrever um artigo com a sintaxe do Markdown que fosse renderizado em uma página HTML usando o Handlebars ou algo do tipo. Como toda as outras ideias de rescrever algo do zero, esse projeto fracassou. Mas enfim, me perguntei se mais alguém já não havia pensando nisso, que a princípio parecia ser algo tão promissor. E a resposta foi sim. Acabei chegando ao Hugo, mas parecia ser algo cru demais para o que eu tinha em mente. Até que descobri o Gatsby.
O Gatsby é na verdade um amontoado de bibliotecas que gera um conteúdo estático a partir de um projeto React. Há um ecossistema de plugins muito rico que permite adicionar funcionalidades ao seu site de maneira fácil, tudo muito integrado.
Há diversas formas de carregar o conteúdo do site, mas a mais popular é utilizando o GraphQL lendo arquivos Markdown, na qual seu conteúdo e metadados serão transformado em HTML.
Se o seu projeto estiver versionado no GitHub, você ainda pode conectar seu repositório ao Netlify, no qual você terá disponível, além da hospedagem, build e deploy automatizados. É possível incluir também, neste pacote, o Netlify CMS, que permite a edição e publicação de seus artigos através de uma interface web, ao invés de ter que manipular diretamente um arquivo Markdown. Como o conteúdo gerado são apenas arquivos estáticos, fica fácil hospedar seu projeto, caso prefira, em sites como o Surge. Aliás, já mencionei que tudo isso é de graça?
A documentação do Gatsby é muito boa, então não irei entrar em muitos detalhes, mas fica aqui um passo a passo pra você ter seu blog no ar em 15 minutos (na real, eu não cronometrei, mas creio que não fuja muito disso).
Starters
O Gatsby tem o que ele chama de starters. São projetos templates dos quais você já pode clonar o repositório e deixar com a sua cara. Após escolher o modelo que mais lhe agrada, para não perder muito tempo, você pode procurar a sessão Try this starter, dentro da própria página do Gatsby, e clicar na opção Netlify.
Algumas configurações depois, você vai escolher um nome para o repositório. O Netlify vai criá-lo dentro da sua conta do GitHub (ou outro site de versionamento que você tenha escolhido). Eu recomendo deixar esse repositório privado, porque como será uma página exposta na internet, talvez você não queira alguém bisbilhotando. Paralelamente a isso, vai iniciar um deploy e disponibilizar uma URL dentro do domínio da plataforma. Clone esse repositório em sua máquina e, utilizando seu editor favorito (o meu é o VSCode), procure o arquivo gatsby-config.js
. Nele você encontrará algumas informações que talvez faça sentido alterar, como seu nome, título do site, redes sociais etc.
module.exports = {
siteMetadata: {
title: `Blog do Alan`,
author: {
name: `Alan Cesar`,
summary: `engenheiro de software, fotógrafo de planta e músico frustrado`,
},
description: `Nem sempre falo tudo o que penso, por isso comecei a escrever.`,
siteUrl: `https://alancesar.com/`,
social: {
twitter: `itsmealancesar`,
}
// ...
}
Feito isso, talvez você queira verificar as mudanças. Para tal, é necessário baixar as dependências usando o npm
(ou yarn
) e instalar o Gatsby CLI.
npm install # ou yarn
npm install -g gatsby-cli
Tudo pronto? Então é só iniciar o Gatsby no modo desenvolvimento. Ele vai hospedar seu projeto localmente em http://localhost:8000
com hot-reloading de suas alterações.
gatsby develop
Netlify CMS
Como eu disse, também é possível usar o Netlify CMS para gerenciar o conteúdo do site. Alguns starters já possuem suporte (você pode consultar na sessão Features), porém ele é facilmente incluído através de um plugin.
npm install netlify-cms-app gatsby-plugin-netlify-cms --save
Também é preciso declarar o plugin no gatsby-config.js
.
module.exports = {
// Muito provavelmente seu arquivo já terá uma lista de plugins declarado.
plugins: [`gatsby-plugin-netlify-cms`],
}
O próximo passo é criar um arquivo config.yml
dentro de static/admin
. Nele será definido algumas coisas, como em qual repositório e branch os arquivos estão versionados e quais campos formarão os elementos de sua página. A opção widget
permite adicionar componentes de calendário e um editor de texto, já aplicando a formatação no Markdown. Ele vai ficar mais ou menos assim, mas você pode conferir todas as opções na documentação:
backend:
name: github
repo: alancesar/alancesar-com
branch: main # ou master
media_folder: static/assets
public_folder: /assets
collections:
- name: blog
label: Blog
folder: content/blog
create: true
slug: index
path: "{{title}}/index"
editor:
preview: false
fields:
- { label: Título, name: title, widget: string }
- { label: Data de Publicação, name: date, widget: datetime }
- { label: Descrição, name: description, widget: string }
- { label: Corpo, name: body, widget: markdown }
Feito isso, basta acessar http://localhost:8000/admin
e seguir os passos para configuração de login. O mesmo vale para seu projeto hospedado no Netlify, mas será necessário configurar um OAuth Provider no GitHub mas calma, é só seguir estes passos e depois adicionar as chaves em https://app.netlify.com/sites/{NOME-DO-SEU-SITE}/settings/access#oauth
.
Hospedagem, CI/CD e DNS
Quase esquecemos, mas seu site já deve estar no ar, porém como um versão antiga. Todo push
na branch master
(ou main
ou até outra que você tenha configurado em https://app.netlify.com/sites/{NOME-DO-SEU-SITE}/settings/deploys
) irá gerar um novo deploy e atualizar o conteúdo. Porém, use-o com sapiência, já que o plano gratuito possui um número limitado (porém suficiente) de deploys por mês. Talvez você já queira fazer um commit
e push
das suas últimas mudanças.
Agora restará apenas configurar o DNS do seu site, para que você não tenha que postar no LinkedIn aquela URL bizarra que o Netlify te deu. Eu uso o Google Domains, mas os passos de configuração são quase sempre os mesmos. Basicamente você vai precisar configurar seu domínio para apontar para os endereços do Netlify DSN e todo o gerenciamento pode ser feito por ele ou, se preferir, mapear os registros CNAME
e A
. E de brinde, você tem domínio HTTPS.
Próximos passos
Se você já possui certo conhecimento nessas tecnologias inclusas no Gatsby, não será complicado personalizar ainda mais o site. O CLI do Gatsby tem alguns comandos que podem ser úteis e você pode encontrar plugins interessantes como integração com o Disqus, Google Analytics e até o Shopify. Já o Netlify oferece diversas configurações, como disponibilizar um subdomínio para rodar uma branch de testes. Talvez eu volte aqui para entrar no detalhe de algum deles 🙂